CASACOR RS 2017: Projeto Talks com Ronald Sasson
Designer Ronald Sasson participa de talk na CASACOR RS 2017
O designer Ronald Sasson marcou presença na edição de 3 de agosto no Projeto Talk, da CASACOR RS 2017. A jornalista Renata Maynart, juntamente com as arquitetas Aclaene Mello e Gabriela Ordhay fizeram a mediação.
Ronald Sasson é paranaense, mas há mais de uma década escolheu Gramado, na Serra Gaúcha, para morar. Lá também instalou o Estúdio Ronald Sasson, onde todo o desenvolvimento de seus produtos é feito. Confira as ideias do designer sobre prêmios, processo criativo e carreira.
A premiada carreira de Ronald Sasson
Nos últimos 15 anos, Ronald Sasson conquistou 22 prêmios. A grande parte internacionais – IF Design Award, Good Design Award, A’Design Award, German Design Award Nominee e, mais recentemente, o Restaurant&Bar product Design Awards.
Em sua experiência, o que difere os prêmios internacionais dos brasileiros é a existência de critérios definidos de avaliação. No prêmio IF Design Award, na Alemanha, a análise baseia-se principalmente na questão industrial. A inovação tecnológica aplicada ao design e a possibilidade de produção em série são muito valorizadas. Afinal, a cultura alemã é industrial.
Segundo Ronald, a poltrona Yori, ganhadora do IF esse ano, não tem nada de inovação em termos de material. O que parece ter encantado os alemães foi a a proposta de utilizar materiais existentes com novas tecnologias de dobradura CNC (comando numérico computadorizado) e técnicas de conformação.
Já nos prêmios italianos, conforme falou Ronald,
eles analisam o exótico, são mais Feline. Um produto que flerta com o design conceitual, artístico, que é o caso dos produtos de edição limitada que eu faço e que ganharam prêmio lá.
No Good Design, de Chicago, onde Ronald já também foi premiado, os critérios para concessão de prêmios são muito semelhantes aos da feira alemã.
Ronald Sasson é um homem focado em objetivos. Portanto, avalia sua participação em cada uma das premiações que participa. Questões como a importância do prêmio e a relevância são consideradas de forma racional. A participação nestes eventos é dispendiosa. A peça precisa ser remetida para o local do prêmio e não é viável economicamente retorná-la ao Brasil. Então o designer precisa pagar para destruir a peça! Uma verdadeira lástima!
O Processo Criativo de Ronald Sasson
Ronald não acredita em inspiração. Ele deposita sua energia num processo bastante disciplinado, que inicia com um briefing auto-sugerido. Ele pensa num móvel pelos detalhes técnicos, em como será construído. Num móvel onde não existam detalhes que chamem atenção isoladamente. Tudo precisa ser harmônico. E com no máximo dois tipos de materiais. O resto é excesso.
Então inicia-se uma jornada que pode durar meses. A primeira versão do produto é feita a mão. A segunda, é um 3D, onde os detalhes já são acertados considerando o maquinário que será utilizado. Afinal, de nada adianta criar um produto que não poderá ser feito.
A terceira fase é onde Ronald constrói o “boneco”, que é um modelo para testar a cor. Determinadas cores encolhem o produto, então é neste momento que o tamanho da peça é ajustado à cor. Feito isto, vem o protótipo e um detalhado exame é realizado na peça. Aprovada, ela será colocada em produção.
Bastante rígido com os detalhes de suas criações, Ronald cita Le Corbusier, para quem “o design é o detalhe”.
O parafuso tem que ser de determinada cor e será daquela cor porque faz diferença no produto final. Muita gente olha um produto e não sabe porquê está gostando. Está gostando pelo detalhe.
Ronald Sasson não costuma criar séries dos seus produtos.
Cada peça de design tem que ter uma identidade própria, pois cada material se presta a uma finalidade. Uma determinada expessura de madeira que ficou boa num aparador não será suficiente para uma mesa…
Presente e Futuro do Design Brasileiro segundo Ronald Sasson
Com produtos que não são feitos para seguir tendências, as quais Ronald Sasson sequer acredita, os materiais são escolhidos na medida da sua necessidade. O designer também não segue uma linha muito difundida no Brasil, a da reciclagem de materiais. Ao contrário, seus produtos usam matérias primas nobres, como madeira e latão.
A praticidade, característica do designer, também se manifesta na produção de suas criações. O produto tem que ter começo meio e fim, tem que ter acabamento, tem que ser replicado, tem que chegar na casa das pessoas. Sua filosofia de trabalho é industrial.
Porém, uma vez por ano, Ronald Sasson se dá o direito de “devanear” e cria peças de edição, geralmente expostas no IDA, no Rio de Janeiro. Nestas ocasiões, ele não se preocupa se a peça será cara, ou se ela será completamente confortável.
O designer faz a tinta com que os arquitetos vão pintar o quadro.
Ronald Sasson não enxerga a tal “brasilidade” em suas peças. Trata-se de uma adaptação à globalização. Seus trabalhos são “de design, feitos no Brasil, e isso é muito bom”. Ele não enxerga a necessidade de suas peças terem uma característica que se possa atribuir “brasileira”.
Aqui se faz design bom, pra ser exportado para Europa. Meu trabalho tem uma certa linguagem italiana aqui, um pouco de traço nórdico nas poltronas ali, eu me adapto ao que eu vejo pelo mundo e eu não vou fugir desta filosofia pra fazer o que eu não sei.
Um desafio que Ronald Sasson enxerga no design de mobiliário é manter a qualidade visual de peças que precisam se adaptar a casas cada vez menores. Para ele, quanto menor a peça, mais complexo é proporcionar elegância.
Para Ronald Sasson, que iniciou sua vida profissional na agronomia, somente em perspectiva sabemos se demos sorte ou não. Tudo compõe a nossa história e lá no fim é que saberemos se algo nos beneficiou.
Para nós, admiradores do trabalho deste incrível designer brasileiro, não restam dúvidas de que lá no fim olharemos as peças de Ronald Sasson com os mesmos olhos de encantamento que vemos hoje.
Apaixonada pela transformação que a decoração faz. Para mim, nossa casa é nosso espelho. E esse reflexo está em cada detalhe.
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