Arne Jacobsen e suas icônicas criações: mais atuais que nunca
Embora o nome de Arne Jacobsen tenha ficado famoso ao redor do mundo por seu mobiliário, ele fazia questão de não ser chamado de designer.
Arne era arquiteto e por isto suas criações no campo do design serviam a um projeto arquitetônico específico. Esta relação entre a arquitetura e o objeto era inata.
Arne Emil Jacobsen, nasceu em Copenhagen, na Dinamarca, em 1902 e começou a carreira assentando tijolos em construções residenciais. Encorajado por seu pai, ele ingressa na Faculdade de Arquitetura.
As tradições neoclássicas da época marcam o início de sua futura carreira, mas não por muito tempo. Ele logo descobre escolas modernistas, como a Bauhaus e arquitetura escandinava, cujos projetos buscavam a integração entre a forma e função.
O resto é a história de Arne Jacobsen que vamos contar!
Quem foi Arne Jacobsen?
Arne Jacobsen é conhecido principalmente por suas cadeiras da Series 7 e poltronas como a Egg e a Swan. Mas sua herança não está apenas nos móveis icônicos que vemos em casas e escritórios do mundo inteiro. Ele exerceu ativamente diversos profissões durante sua vida. Foi decorador, designer de móveis, têxtil e de cerâmicas, professor e é considerado um dos nomes mais importantes da Arquitetura Modernista.
A ousadia de sua obra é notável. No mesmo nível de sua preocupação em atender as demandas dos seus clientes. Apesar de ser um amante da forma, Jacobsen nunca se esqueceu do conforto que suas peças deveriam proporcionar.
Segundo o Professor Leo Mangiavacchi, diretor da Escola de Design do Istituto Europeo di Design e profundo conhecedor do trabalho do artista, a natureza e suas formas sempre foram sua inspiração:
“Com isso, ele conseguiu criar um estilo limpo, funcional e elegante, com formas simples, que lembram o minimalismo. E suas obras estão aí, sendo copiadas e inspirando profissionais e projetos por todo o mundo”.
Tomando para si as formas da natureza, Arne Jacobsen conciliou simplicidade, funcionalismo, elegância e conforto em seus produtos.
Admirava os trabalhos de Le Corbusier, Mies van der Rohe e do casal Eames. Mas o pensamento que permeou sua carreira foi de Ernesto Rogers. Para o designer italiano cada elemento era igualmente importante “da colher para a cidade”.
Dono de uma grande personalidade, Jacobsen cuidava com muito rigor de absolutamente todas as partes de seus projetos. Mesmo os menores detalhes passavam por seu crivo. Ele acreditava que cada tijolo em um prédio, cada puxador em um armário, precisava ser harmônico.
Biografia de Arne Jacobsen
1924 – 1929
Em 1924 Jacobsen é admitido na Escola de Arquitetura da Real Academia Dinamarquesa das Belas Artes.
Durante o curso, arrisca seu primeiro projeto de design de móveis, a Cadeira Paris, produzida até hoje pela Sika, uma companhia dinamarquesa. Feita em rattan, a peça ganhou a medalha de prata na Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas de 1925.
Arne Jacobsen voltou de Paris muito impressionado com a estética pioneira do pavilhão L’Esprit Nouveau de Le Corbusier.
Seu projeto de graduação, uma galeria de arte que lhe rendeu uma medalha de ouro, foi influenciado diretamente pela arquitetura racionalista dos alemães Mies van der Rohe e Walter Gropius.
Arne Jacobsen trabalhou para o escritório de Poul Holsøe, entre 1927 e 1929, quando abriu seu próprio studio.
Com a liberdade de ser dono de seu próprio studio, Arne Jacobsen abandona o pensamento neoclássico e passa a adotar em seus projetos o funcionalismo.
The House of the Future
Ainda em 1929, em colaboração com Flemming Lassen, Jacobsen participa de um concurso da Associação Dinamarquesa de Arquitetos para desenhar “A casa do futuro“.
O projeto, que posteriormente foi construído em grande escala para a exposição no Fórum de Copenhague, ganha o primeiro lugar da competição.
A casa, cujo objetivo era promover uma maior integração, tinha a forma de espiral. Feita com vidro e concreto aparente, com um telhado plano que servia como plataforma para um helicóptero. O projeto incluía janelas que rolavam como janelas de carro, um tubo de transporte interno, uma cozinha abastecida com refeições prontas e um sistema que ficava na entrada da casa para sugar a sujeira dos sapatos. Jacobsen ficou imediatamente conhecido com um arquiteto ultramoderno.
1930
A atenção de Jacobsen aos detalhes, característica que sempre acompanharia seu trabalho, fica evidente no projeto da super funcionalista Rothenborg House. Ao incluir no projeto não apenas a edificação, mas também móveis e acessórios, ela foi considerada pela imprensa da época como uma obra de arte completa.
1932
Para o projeto Bellevue Sea Bath, uma praia de 700 metros de comprimento, com gramados adjacentes, em Klampenborg, Dinamarca, Arne Jacobsen projetou absolutamente todos os detalhes. As características torres de salva-vidas, listradas de azul e branco, os quiosques geométricos e até mesmo os uniformes dos funcionários. Absolutamente tudo passou pelos olhos atentos do arquiteto.
1934
Alguns meses após Bellevue Sea Bath, Arne Jacobsen é contratado para projetar o Bellavista Housing Estate. Implacável em sua determinação de unir a forma ao uso, o resultado é um prédio residencial onde cada apartamento oferece vista para o mar.
Construído em concreto, aço e vidro, com superfícies lisas e planta interna aberta, livre de quaisquer excessos ou ornamentos, o Bellavista Housing Estate posicionou Jacobsen como um dos principais proponentes do Estilo Moderno Internacional.
Em 1934 também, Arne Jacobsen começa a desenhar para Fritz Hansen, companhia dinamarquesa fundada em 1872 e que até hoje possui os direitos de produzir os mobiliários de Jacobsen.
1936
O Teatro Bellevue, também localizado no balneário de Klampenborg, é considerado uma das obras arquitetônicas mais importantes de Arne Jacobsen.
Com notória influência da arquitetura cubista branca que Jacobsen conheceu na Alemanha, particularmente no Weissenhof Estate em Stuttgardo, o Teatro é um dos melhores exemplos do funcionalismo dinamarquês.
O prédio tem um telhado retrátil para permitir diversos tipos de performances, paredes forradas com lona e bambu, grandes painéis de mosaico e uma cortina pintada por Åge Sikker Hansen.
Os projetos que fazem parte da chamada “Trilogia Branca“, composta pela Bellevue Sea Bath, Bellavista Housing Estate e pelo Teatro Bellevue, foram descritos à época, como “o sonho do estilo de vida moderno”.
1937
Após a Trilogia Branca, Jacobsen muda sua abordagem e, sob encomenda da empresa A. Stelling, constrói o vanguardista Stelling Hus, uma obra que ajudou a definir o que conhecemos como design moderno nórdico.
O projeto foi feito num estilo puritano e modernista, captando com perfeição o classicismo dos edifícios circundantes no centro histórico de Copenhague.
Embora atualmente o prédio não pareça estar fora de lugar, na época de sua construção gerou muita controvérsia. O edifício de seis andares tem os dois primeiros revestidos de aço pintado de verde. O restante, em concreto armado aparente. O último andar é levemente recuado. Tais características foram abertamente criticadas tanto pela aparência quando pelos materiais usados. Em 1991 o prédio foi tombado pelo Patrimônio Histórico.
Na parte inferior do Stelling Hus, existe um café decorado com mesas e cadeiras projetadas por Arne Jacobsen.
1941
1955
Os estudos realizados por Arne Jacobsen para fazer a cadeira Formiga evoluíram para a Series 7. O sucesso foi imediato e até hoje as sete opções são incansavelmente vendidas em todo o mundo. O design dos modelos justifica tamanho desejo. Eles são universais, modernos, anatômicos, leves, compactos e com exceção dos modelos com rodas e das banquetas, são facilmente empilháveis.
1956
A Câmara Municipal de Rødovre apresenta proporções e detalhes inconfundíveis, inspiradas no Eero Saarinen’s General Motors Technical Center. Não há no prédio o que se esperaria de um prédio público do século XIX, como arquitraves, pilares ou frontões.
O complexo consiste de duas asas conectadas por um corredor de vidro. Mas foi a escadaria do edifício que o tornou mundialmente conhecido. Jacobsen suspendeu totalmente a escada por hastes de aço laranjas. Uma inovação verdadeiramente moderna.
Da luminária aos detalhes das janelas, os ângulos retos, as cores utilizadas, o uso de madeira para acabamentos de parede e os móveis e acessórios foram todos cuidadosamente pensados por Arne Jacobsen.
1957
Munkegaard Scholl
O governo dinamarquês construiu inúmeras escolas na década de 1950 e Arne Jacobsen foi contratado para desenhar a Escola Munkegaard, ao norte de Copenhagen. Para Jacobsen, a escola ideal deveria priorizar o bem-estar físico das crianças.
A Munkegaard School foi uma das primeiras escolas térreas da Dinamarca. O projeto consiste em um grande complexo, capaz de atender 850 crianças, proporcionando a todas elas uma sensação de intimidade e bem-estar.
Com aparência simples e humana, resultado das proporções cuidadosamente calculadas, Arne Jacobsen projetou 24 salas de aulas, organizadas em pares, que se abrem para pequenos pátios. Tudo está conectado por corredores paralelos de vidro que dão acesso ao salão de atos e a sala dos professores. Em uma ala separada estão os ginásio, galpões e salas de ciência e as instalações especializadas, incluindo uma biblioteca.
Os talheres de Arne Jacobsen
Arne Jacobsen desenha os talheres que serviriam ao Hotel Royal em Copenhague. A essência do estilo dinamarquês moderno foi perfeitamente capturada por Jacobsen. Um clássico minimalista por sua simplicidade e forma única. O interessante sobre os talheres desenhados por Arne é que, amante dos detalhes como era, não ignorou os canhotos. Existem dois modelos de colher de sopa especialmente desenhadas para quem usa a mão direita e para quem usa a mão esquerda.
Os talheres são feitos em aço inoxidável, com acabamento fosco. Considerados verdadeiras obras de arte, permanecem à venda na Loja do Museu de Arte Moderna, em Nova Iorque.
Ainda em 1957, Arne Jacobsen desenha a cadeira Grand Prix, que acabaria recebendo este nome por ter ganho o prêmio máximo na Triennale, em Milão.
1958
Royal Hotel em Copenhague
Arne Jacobsen foi contratado para o projeto do Royal Hotel em Copenhague, mas como de costume, visualizou neste trabalho a oportunidade de colocar em prática suas teorias de design integrado e arquitetura. Acabou envolvendo todo o hotel, da fachada aos talheres utilizados no restaurante, numa obra de arte total, a Jacobsen “Gesamtkunstwerk”.
Evidentemente, o que foi feito no Royal Hotel estava muito à frente de seu tempo. Jacobsen inaugurou o conceito de “hotel design”, com traços modernos, elegantes, surpreendentes e curvas ousadas diante da forte produção industrial da época.
Nesse projeto, Jacobsen desenhou duas de suas mais famosas criações nessa área: a Egg Chair e a Swan Chair, ícones do design até os dias de hoje. Pensando em garantir uma certa privacidade nos espaços públicos, Arne Jacobsen projeta a Egg Chair para o lobby e as áreas de recepção do Royal Hotel. Desde então, a forma orgânica desta poltrona tornou-se sinônimo do design de mobiliário dinamarquês em todo o mundo.
Já o formato tridimensional da Swan Chair apresentou inovação técnica por seu design curvado com linhas retas. Seu quadro contém um molde sintético, coberto por uma camada de espuma estofada em tecido ou couro com uma base giratória de alumínio de quatro estrelas em alumínio.
Atualmente, apenas o quarto 606 mantém o design original, com os móveis e painéis de madeira na parede como uma espécie de “museu vivo” para o grande arquiteto e designer. E o melhor é que este quarto está disponível para reserva para aqueles que querem vivenciar a história do design.
Catherine’s College em Oxford
Após uma visita à escola Munkegård e ao Hotel Royal, a comissão responsável por escolher o arquiteto para o projeto de um novo prédio da tradicional Universidade de Oxford, foram rapidamente convencidos que Arne Jacobsen era a escolha ideal.
Com carta branca do governo britânico, novamente Jacobsen desenhou e especificou todos os detalhes. Do tom de cinza das cortinas até a altura dos cedros que circundariam o novo campus, passando pelas espécies de peixes que habitariam o novo lago. O resultado é um prédio coerente e perfeitamente proporcional, dialogando com maestria com a paisagem.
Um dos resultados deste projeto, foi a Cadeira Oxford, outro clássico que combina modernidade com a funcionalidade. Projetada em duas versões, uma com encosto alta, e outra com encosto baixo, braços e giratória.
1961
Arne Jacobsen ganha o concurso para projetar o edifício do Danmarks Nationalbank, que somente seria concluído em 1978, após a morte do arquiteto.
O estupendo hall de entrada em forma de cunha, de quase 20 metros de altura é o palco para outra emblemática escada de Arne Jacobsen. Suspensa pelo teto e feita em vidro e aço, a estrutura atende os 6 andares do prédio.
Mais uma vez, o arquiteto transcende os conceitos de arquitetura e objeto. As formas incomuns do espaço, a escolha dos materiais, as incríveis aberturas estreitas na fachada, a discreta entrada. Todos os elementos escolhidos traduzem o que o ambiente representa.
A fachada do edifício, de pedra e vidro, exala um ar de solenidade e restrição, coadunando com a função de gerenciar as finanças da nação. Na parte interna do prédio, mármore norueguês, madeira e cerâmica, bem como o vidro são amplamente utilizados.
1967
Arne Jacobsen projeta a Cylinda-line, com a qual ganhou o Prêmio ID 1967 pela The Danish Society of Industrial Design e pela The International Design Award 1968 pelo American Institute of Interior Designers.
Inúmeros foram os desafios durante os três anos necessários para desenvolver a coleção de itens de mesa composta originalmente por 15 peças. As técnicas de dobra e corte de aço da época implicavam que os lados e a base de um recipiente se encontrassem em um ângulo obtuso em vez do ângulo reto. Jacobsen foi inflexível neste ponto e para resolver a questão, foi desenvolvido um sistema de dobramento totalmente inédito.
As peças, em formato cilíndrico de aço inoxidável em design totalmente minimalista, são complementadas por elegantes bicos longos e alças esculpidas. A intenção de Jacobsen de produzir peças de mesa com design e preço acessível era baseada em seus princípios democráticos – um bom design deveria estar disponível para todos.
1968
Arne Jacobsen lança a emblemática torneira VK1. Ela havia sido desenhada para o projeto do Danmarks Nationalbank. Com design atemporal, a torneira apresenta externamente apenas o que lhe é fundamental para o funcionamento.
1970
Para a Feira de Móveis Dinamarquesa de 1970, Jacobsen apresenta a cadeira Lily (Series 8, 3208), que é uma versão da cadeira 3108, com braços.
Originalmente projetada para o Danmarks Nationalbank, a cadeira é feita de folheado laminado em fatias e é resultado de um processo de moldagem extremamente complicado, que garante suas curvas perfeitas e extremo conforto.
1971
Arne Jacobsen falece inesperadamente em 24 de março de 1971. Havia uma série de projetos em andamento. Eles incluíam incluíram a nova sede da prefeitura de Mainz, Alemanha, o Banco Nacional Dinamarquês e a Royal Danish Embassy em Londres. Todos os projetos foram concluídos pela Dissing + Weitling, uma empresa criada por seus antigos braços-direito, Hans Dissing e Otto Weitling.
Alguns meses antes ele havia concluído que
“o fator fundamental é a proporção. Proporção é precisamente o que faz com que os templos gregos antigos sejam tão belos… e quando olhamos para alguns dos edifícios mais admirados do Renascimento ou do Barroco, vemos que são todos bem proporcionados. Essa é a questão essencial”.
O Legado de Arne Jacobsen
Clara, simples, leve, minimalista. Essas são algumas características da obra de Arne Jacobsen. Sua extraordinária compreensão da proporção e seu olhar atento para todos os detalhes criaram conceitos visionários e totalmente coerentes. Um verdadeiro marco do século XX, cuja importância foi reverenciada em vida, fato raro para a arquitetura e mais ainda para o design industrial.
Agora que você conheceu um pouco da história deste incrível arquiteto e designer, confira as opções que a Liv Decora tem de seus produtos, como a Poltrona Egg e a Poltrona Swan.
Apaixonada pela transformação que a decoração faz. Para mim, nossa casa é nosso espelho. E esse reflexo está em cada detalhe.
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